"Refugio-me, aliás, quase sempre nos mesmos livros, no fundo, um número pequeno, o dos livros para mim já comprovados. Talvez não faça parte da minha maneira de ser ler muitas coisas e muito diversas: uma sala de leitura põe-me doente.", Nietzsche

segunda-feira, dezembro 02, 2013







Jardim Botânico de Geneva


The  Book of the Divine Cow is inscribed on the interior walls of the first shrine. When human kind began do defy him, the Sun God decided they must be annihilated. However, once his daughter followed his instructions and had burned a number of the disobedient men to death in the desert, the remorseful Sun God decided to save the rest of humankind by getting her drunk, so that she would forget her task. Finally, he rode away from the earth on the back of the Divine Cow. This text explains the Egyptian view of how evil came to enter the world through the act of man's rebellion, as such performing a similar function to the Biblical stories of The Fall of Man and The Flood.

quinta-feira, junho 06, 2013

Primeiro, com o seu desinteresse total pelo que ela viveu no estrangeiro, amputaram-lhe de vinte anos de vida. Agora, com este interrogatório, tentam voltar a coser o seu passado antigo e a sua vida presente. Como se a amputassem do antebraço e lhe fixassem a mão directamente no cotovelo; como se a amputassem das pernas pelo joelho e lhe prendessem os joelhos aos pés.
Siderada por esta imagem, não é capaz de responder às perguntas delas; as mulheres, de resto, não estão à espera disso e, cada vez mais embriagadas, voltam às suas tagarelices que deixam Irena de parte. Ela vê as suas bocas que se abrem todas ao mesmo tempo, bocas que se mexem, que emitem palavras e rebentam de riso sem parar (mistério: como é que as mulheres que não se ouvem se podem rir do que dizem umas às outras?). Já nenhuma se dirige a Irena, mas esplendem todas de bom humor, a mulher que no início mandou vir cerveja põe-se a cantar, as outras fazem o mesmo e, até depois de acabado o serão, na rua, não páram de cantar.

Milan Kundera, in "A Ignorância"

Porque voa uma mosca no quarto ao lado?







Investigou-a pelo canto do olho e num gesto de repulsa cuspiu para o chão. O olhar dele era de desdém. Alguém roubara-lhe o pito e com certeza que fora aquela criatura de falinhas mansas que desatina facilmente e que o apunhala pelas costas num ápice se assim for caso disso. Isto dito pelos elegantes elefantes que caminham à minha frente, pela frase adentro, de trombas dadas ao encalce da estrada de pedra que vai dar ao pontão situado na extremidade norte da folha minha. Estilhaçam-me a escrita, fazem-na partir-se e emergir sobre uma sopa de letras que não apazigua a santa que me observa complacentemente do tocador. O véu que me desvenda o rosto e a negritude dos olhos dela é o petróleo que me emociona e não mais me atemoriza. As palavras que escrevo estão lá à frente, sempre um passo mais à frente, cochichando as letras mais à frente até a gata chamar-lhes à razão. Fita-as sem amargura. Conhece-as mas assim muito pouco. Creio na sinceridade das palavras e sigo em marcha em prol de forças maiores, da minha e da vontade dos outros pois sem eles não seria nada ou pouco seria ou a relação do nada que ignora o cúmulo de se precisar de alguém, quanto mais se não for para pensar. Se quer a mosca voar livremente pelo quarto, deixa-a voar.

quarta-feira, junho 05, 2013

Deve-se estar atento às ideias novas que vêm dos outros. Nunca julgar que aquilo em que se acredita é efectivamente a verdade. Fujo da verdade como tudo, porque acho que quem tem a verdade num bolso tem sempre uma inquisição do outro lado pronta para atacar alguém; então livro-me de toda a espécie de poder - isso sobretudo.

Agostinho da Silva 


quinta-feira, maio 30, 2013

diário

7 fevereiro de 2017

Creio com todas as minhas forças no passado, no cheiro da casa do avô, nas plantas que me crescem nos dedos e que de tão viçosas e suculentas se tornaram alimento. Ninguém sabe quem eu sou. Nem mesmo eu. Vivo presa na transição, no momento que antecede o espirro.


13 fevereiro de 2017

Hoje sinto que acordei à frente do próprio tempo. Sinto-me bem. Reparo novamente nas ratazanas que continuam a cobrir o comedouro com a toalha de cozinha velha que lhes dei. E depois na gata deitada em cima da mesa da sala ao sol. E na cadela que dorme sossegada junto ao sofá. É o meu momento da manhã.

21 fevereiro de 2017

Desejo ser culta e viajada. Desejo o mundo e a expressão enamorada da Humanidade. Minto quando digo sentir-me incompleta. Creio na imensidão da planície que se estende nas minhas costas e que tudo é possível, que tudo nos pertence. Acreditar que tudo é possível e que tem tudo uma razão subjacente.

22 fevereiro de 2017

Creio que estava bem ali sozinha, perante a derrocada da vida, vendo as pedras cair submersas no mar que era negro. Creio que lamber-me não está errado. Que agir em conformidade com o pensamento nunca foi uma ideia errada. 

6 março de 2017

Parece que tenho os músculos tensos. Mas o que parece simples em aparência, de fato metalizado e sapato polido é só uma estrutura firme que segue regras de geração em geração.

30 março de 2017



E retornando a mim, com aves a voar debaixo de mim, novas energias encaminham-me por recantos da memória onde a busca por pensamentos amorfos que signifiquem qualquer coisa ou uma imensidão de coisas, se torna, do nada, em coisa nenhuma. 

chinese ligustrum (10 years old)










pussy love II